EPISÓDIO 1 – A Última Chamada
Narrado por Ju-kyung
Hoje deveria ser um dos dias mais felizes da minha vida.
Não por minha causa, claro, mas por causa da minha irmã. Hee-kyung vai se casar. Ela está linda, radiante, como uma daquelas noivas de revistas de casamento que a mamãe vive comprando. E, ainda assim, aqui estou eu… no meu quarto, encarando meu reflexo como se fosse uma estranha.
A maquiagem está no lugar. A pele perfeita, os cílios longos, o blush leve. Tudo calculado. Tudo escondendo as olheiras e o cansaço que nenhuma base consegue apagar por completo.
Mas é por dentro que eu me sinto realmente fora de foco.
"Você vai se atrasar, Ju-kyung!" — gritou minha mãe da sala.
"Tô indo!" — respondi, tentando parecer animada.
Peguei meu celular mais uma vez, com aquela esperança idiota de ver uma mensagem de Su-ho. Algo como:
"Boa sorte no casamento da sua irmã."
Ou pelo menos:
"Estou com saudades."
Mas nada.
Faz semanas que ele está em Tóquio, estudando música, e ultimamente ele tem sido… diferente.
Distante.
Silencioso.
Como se, a cada dia, estivesse um pouco mais longe de mim.
Desci as escadas com um sorriso treinado e entrei no carro com minha família. Minha mãe estava animada, como sempre, e meu pai… bem, ele parecia mais nervoso do que a própria noiva.
O salão do casamento estava lindo. Tudo em tons de branco e pêssego, do jeitinho que Hee-kyung sonhou. Flores por toda parte, luzes suaves, convidados sorrindo e tirando fotos.
Eu procurei meu lugar e me sentei. Sorri para os tios, acenei para as amigas da minha irmã. Tudo parecia estar no lugar.
Até que eu o vi.
Seo-jun.
Meu coração deu um salto tão grande que eu quase deixei o leque cair no chão.
Ele estava lá, de pé, perto da mesa do som, com o cabelo mais comprido, um terno escuro e aquele ar calmo que ele sempre teve — mesmo quando tudo ao redor parecia um furacão.
Fazia meses desde que nos vimos. Desde que ele desapareceu sem dizer adeus.
E agora estava ali. No casamento da minha irmã. Como se nada tivesse mudado.
Nossos olhos se encontraram por um instante. Ele me deu um meio sorriso. Eu… apenas desviei.
A cerimônia começou. Hee-kyung estava deslumbrante no vestido de noiva. Joon-woo chorou antes mesmo de ela chegar até o altar. Todos riram. E eu me emocionei.
Mas, entre os votos e as músicas suaves ao fundo, minha mente voltou para Su-ho.
Ele não mandou nem uma mensagem.
"Será que ele ainda me ama?"
"Será que estamos mesmo juntos… ou só fingindo que ainda somos?"
Esses pensamentos me consumiam silenciosamente, mesmo enquanto minha irmã dizia "sim" e beijava o amor da vida dela sob aplausos.
Logo depois, veio a recepção.
O salão se transformou num espaço de celebração. Risos, comida, discursos embaraçosos do papai. Até que o mestre de cerimônias anunciou:
— Agora, um momento especial… Uma apresentação dedicada aos noivos, por um amigo muito querido da família!
As luzes baixaram. A atenção se voltou para o palco.
E lá estava ele.
Seo-jun.
Com um violão nas mãos.
"O quê…?" — pensei, o coração acelerando.
Ele ajeitou o microfone e disse:
— Eu escrevi essa música há um tempo, mas nunca tive coragem de cantar. Hoje… parece o dia certo. Não é só para os noivos, mas também para alguém que sempre foi minha inspiração.
O mundo pareceu parar por alguns segundos.
Ele estava falando de mim?
Ou era apenas minha imaginação?
Então ele começou a tocar.
A melodia era suave. Familiar. Como se já estivesse dentro do meu peito antes mesmo de começar.
"Quando todos olhavam o brilho…
Eu vi a sombra atrás.
Quando você sorria por fora…
Eu ouvia o choro por trás."
A cada verso, meu peito apertava.
Seo-jun cantava com uma honestidade que me desmontava por dentro.
Não tinha truques. Nem maquiagem.
Era só ele.
E a verdade que nunca foi dita.
"E mesmo que o tempo mude tudo,
Você ainda é minha canção inacabada."
Quando a música terminou, o salão inteiro aplaudiu.
Ele apenas abaixou a cabeça, fez uma pequena reverência… e saiu do palco.
Eu fiquei sentada. O coração fora do ritmo. A respiração presa.
Meu celular vibrou.
Su-ho:
"Desculpa pela distância. A gente precisa conversar. Depois."
Só isso.
Sem emoji.
Sem carinho.
Sem saudade.
Olhei para a tela por um tempo, depois a apaguei.
Levantei os olhos… e procurei Seo-jun na multidão.
Mas ele já tinha desaparecido de novo.
Fim do Episódio 1